Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender.
– Caio Fernando Abreu
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Oração de um Poeta (2)
Senhor, sei que muito
pequei por correr atrás de poesia, às vezes eu esqueço que ela está dentro de
mim. Perdoe-me. É que é difícil saber a forma certa de colocar meus sentimentos
para fora. Se eu pudesse voltar, cometeria outros erros. Jamais teria usado
drogas, por exemplo; quem supera o vício sabe o mal isso que faz. Também não me
envolveria com aquela menina da oitava série, eu acreditava mesmo que ela só se
jogava para mim. Se eu soubesse que nós atraímos o que somos, eu jamais seria o
cara que ilude as garotas só para ter o ego apalpado. Não ia colar nas provas
nem dormir na escola; até tentaria ganhar uma bolsa na escola particular. Se eu
soubesse o poder da palavra, não teria deixado de elogiar minha mãe e minha
namorada, perdi várias chances de mudar o dia delas. Deus, quantas poesias eu
perdi? Ainda bem que o Senhor tem misericórdia. Não entendo quem se diz poeta e
não acredita em algo maior do que ele mesmo, a poesia já é maior do que nós, é
o encontro entre o humano e o divino, entre a imagem e a semelhança. Meu Pai,
obrigado pela liberdade que o Senhor nos dá.
E obrigado por exigir de mim esse autoexame de consciência, assim vou
perder menos poesias na vida. Ah, Senhor, agradeço de coração pelas poesias de
hoje e pelas poesias de amanhã. Que Jesus reine para sempre. Amém!
Meu "não" em você
Vá
guardando esse sorriso cínico.
Não
me olhe desse jeito.
Você
sabe que eu me perco,
E
depois me enfureço com sua partida.
Sabes
exatamente o que me apetece.
Me
seduz quase sem querer.
E,
se não fosse o querer,
Diria
que você é ingênua.
Quase
ingênua!
Se
seus lábios não forem caminhos,
Não
os morda.
Se
seus cabelos não forem encantos,
Não
brinque com eles.
Se
seu sorriso não for um convite,
Não
o abra.
Não
faça nada por mim.
Não
faça nada perto de mim.
Pare
de falar! Pare de falar!
Não
use voz aguda para me dizer intensidades
Se
não sabes lidar com minhas paixões.
Não
desperte emoções quando não há intenção de supri-las.
Já
conheci muitas mulheres com medo de amar.
Mas
de estúpidas como você, que despertam sentimentos
Pelo
prazer de despertar, eu quero distância.
Não
me confunda com seu alter ego
Nem
pense que sou um de seus brinquedos.
Definitivamente,
eu não sou homem para você.
Meus erros, meu bem... Meus erros.
Ultimamente
eu tenho sentido uma enorme necessidade de amar.
Talvez
eu tenha sentido há muito tempo;
Talvez
eu fosse orgulhoso demais para admitir;
Talvez
eu tivesse medo de me enfraquecer para me tornar tão forte;
Talvez
eu amasse tanto a minha fraqueza que criei uma ilusão capaz de me prender na
solidão;
Talvez
eu fosse apenas um solitário egoísta...
Daqueles
que não divide a solidão, mesmo existindo tantos solitários por aí.
Ah,
é difícil delinear os erros quando se trata de um errante como eu!
Talvez,
meu bem, se tratando de amor, eu precise aprender a ser imperfeccionista.
Ao Pó Voltarás
Sua
ausência me dói
Quando
te quero presente.
Sua
agressão me corrói
Quando me
sinto carente.
Você
não me olha com amor,
Meu
coração está na calçada.
Seu
sorriso é remédio para dor,
Busquei
afeto na pessoa errada.
Mas não
te culpo por nada.
Se eu sofro,
a autoria é minha.
Me
aprofundei numa pessoa rasa,
Minh’alma
nunca esteve tão sozinha.
Ainda
que eu goste da solidão,
É
estranho me sentir sem nó.
O lado
bom da vida me fortifica.
E o que
não fica, volta ao pó.
Mas eu te amo...
– Mas eu te amo – ela disse, com as lágrimas escorrendo pelo
rosto.
Era um teatro, eu sabia. A voz do meu senso dizia: “tenha
dó”. Mas eu não tinha, e nem conseguia ter, por mais que eu tentasse. Não sei
se sou uma pessoa muito fria, mas, naquele momento, nada me esquentava. Eu me
virei naquela vasta sala de estar, enquanto ela estava sentada no sofá, e andei
em direção ao vinho. Enchi a taça e dei um gole.
– Você não entende? Tudo o que fiz por você, todo o amor que
te dei, veio daqui de dentro e foi o mais puro que eu poderia te dar. Ninguém
vai te amar como eu! – ela continuava seu teatro, batendo em seu peito, agora
ainda mais escandalizado. – Eu estou sofrendo por você, e sofreria cada vez
mais até você voltar pra mim.
Eu não conseguia manter meu olhar nela. Na verdade, ela me
dava nojo. Porque cada vez que eu a olhava eu precisava me segurar para não
agredi-la. Nunca fui um homem correto. Mas era tortuoso imaginá-la na cama com
outro homem, como ela o fez.
Eu me aproximei dela e a olhei nos olhos pela última vez,
dizendo friamente:
– Eu não ligo.
Desregra
Eu tenho o costume de esconder sentimento. Sentimento não é
algo compreendido hoje em dia; talvez até sempre em dia. Então eu escondo,
reprimo, finjo que ele não está ali. E olha, me considero um belo mentiroso
sentimental. Talvez esse medo da fraqueza acabe me tornando realmente fraco. E
aí eu me vejo como um balão: eu encho, encho, encho, até estourar. Estourar em
alguém. Estourar por alguém. Mas, sejamos honestos, quem quer uma pessoa
emocionalmente desregrada, explodindo amor em cima dela? Isso é constrangedor.
Presa da Solidão
Suas mãos me acariciam
Mas não alcançam minh’alma.
Nossos encontros casuais
Têm me corroído pouco a pouco.
Eu me encho do vazio que é estar com você
E, no fim, só escrevo poesias de solidão.
Mas não alcançam minh’alma.
Nossos encontros casuais
Têm me corroído pouco a pouco.
Eu me encho do vazio que é estar com você
E, no fim, só escrevo poesias de solidão.
Átrios da Vida
Quando tudo
parecia sair do lugar
Eu me
desconectei da vida
E me voltei para
Deus.
Sem querer,
descobri que lá
É onde a vida
realmente está.
Superficial
Ela me chamou para uma festa, daquelas que as pessoas vão pra parar
de pensar em suicídio. Mas eu rejeitei, sempre achei a superficialidade um
veneno para quem é profundo, e falei: “quando for a um lugar onde pessoas são
mais do que um pedaço de carne, me chame; gosto de sentir as pessoas com o
coração e pensar nelas com a cabeça, mas a cabeça de cima.” Ela me xingou e foi
embora, mas, tenho certeza, nunca mais esqueceu o que eu disse.
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