Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender.

Caio Fernando Abreu

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Dias mais, dias menos

Um dia eu encontrei um caminho amargo, árduo, duro. Não parecia o caminho certo, mas era. O problema é que eu só fui descobrir anos depois de dar a meia-volta. Aquele foi o instante em que me perdi, agora sei. Eu era um, agora outro; outro que não é mais um. Devo me reinventar, me refazer? Devo me reencontrar, voltar a ser? O caminho do qual desviei pode ainda existir? Devia não ter desviado do caminho pela dureza que ele apresenta, ali eu descobri o significado de covardia. Agora descubro o significado de coragem. Parece que eles não existem sem comparações. Não vivo mais na fantasia e o mundo real não me amedronta. Sinto meus inimigos começarem a tremer.