Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender.

Caio Fernando Abreu

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Mas eu te amo...

– Mas eu te amo – ela disse, com as lágrimas escorrendo pelo rosto.
Era um teatro, eu sabia. A voz do meu senso dizia: “tenha dó”. Mas eu não tinha, e nem conseguia ter, por mais que eu tentasse. Não sei se sou uma pessoa muito fria, mas, naquele momento, nada me esquentava. Eu me virei naquela vasta sala de estar, enquanto ela estava sentada no sofá, e andei em direção ao vinho. Enchi a taça e dei um gole.
– Você não entende? Tudo o que fiz por você, todo o amor que te dei, veio daqui de dentro e foi o mais puro que eu poderia te dar. Ninguém vai te amar como eu! – ela continuava seu teatro, batendo em seu peito, agora ainda mais escandalizado. – Eu estou sofrendo por você, e sofreria cada vez mais até você voltar pra mim.
Eu não conseguia manter meu olhar nela. Na verdade, ela me dava nojo. Porque cada vez que eu a olhava eu precisava me segurar para não agredi-la. Nunca fui um homem correto. Mas era tortuoso imaginá-la na cama com outro homem, como ela o fez.
Eu me aproximei dela e a olhei nos olhos pela última vez, dizendo friamente:
– Eu não ligo.

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